quinta-feira, dezembro 28, 2006

Nova exposição do "II Encontro Internacional de Ceramistas em Boassas"


Já tem data marcada a nova exposição dos trabalhos concretizados aquando da realização do "II Encontro Internacional de Ceramistas em Boassas". Assim, salvo algum imprevisto, está agendada para dia 25 de Julho de 2007, no Museu Nacional de Cerâmica González Martí, em Valência (Espanha), a inauguração da 3.ª exposição que, desta forma, sucede às exposições de Cinfães e Avilés. Recordamos que já em 2004 tinha sido realizada uma exposição neste mesmo museu e que após um mês a mesma tinha tido já mais de 25.000 visitantes, tendo o museu pedido o prolongamento da mesma... Neste momento e até ao próximo dia 7 de Fevereiro decorre neste museu uma importante mostra designada "A cerâmica espanhola e a sua integração na arte", na qual participam alguns autores que já estiveram em Boassas, nomeadamente: Arcadio Blasco; Rafael Pérez; Jesús Castañón; Myriam Jiménez; Juan Ortí e Xavier Montsalvatje.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Glosa de Natal...


Para além de ser absolutamente imprescindível pensar (ou repensar) a época natalícia e os impactos que ela tem neste nosso mundo cada vez mais vilependiado, talvez também não seja mau recordar que, afinal, o personagem cujo nascimento agora mais uma vez se venera, era palestiniano, descendente de judeus... e pobre. Não me consigo, assim, impedir de publicar o maravilhoso texto de Marguerite Yourcenar, intitulado precisamente:

"Glosa de Natal"
“A estação dos Natais comercializados chegou. Para quase toda a gente - fora os miseráveis, o que faz muitas excepções - é uma paragem quente e clara no Inverno cinzento. Para a maioria dos celebrantes de hoje, a grande festa cristã fica limitada a dois grandes ritos: comprar, de maneira mais ou menos compulsiva, objectos úteis ou não, e empanturrar-se a si e às pessoas da sua intimidade, numa mistura indestrinçável de sentimentos em que entram igualmente a vontade de dar prazer, a ostentação e a necessidade de se divertir. E não esqueçamos os pinheiros, símbolos antiquíssimos que são da perenidade do mundo vegetal, sempre verdes, trazidos da floresta para acabarem morrendo ao calor dos fogões, e os teleféricos despejando esquiadores na neve inviolada.
Embora não sendo nem católica (excepto de nascimento e de tradição), nem protestante (excepto por algumas leituras e influências de alguns exemplos), nem mesmo cristã no sentido pleno do termo, nem por isso me sinto menos levada a celebrar esta festa tão rica de significados e seu cortejo de festas menores, o São Nicolau e a Santa Lúcia do Norte, a Candelária e os Reis. Mas limitemo-nos ao Natal, esta festa que é de nós todos. Trata-se de um nascimento, de um nascimento como todos deveriam ser, o de uma criança esperada com amor e respeito, trazendo em si a esperança do mundo. Trata-se dos pobres: uma velha balada francesa canta Maria e José procurando timidamente em Belém uma hospedaria para as suas posses, sempre desprezados em favor de clientes mais ricos e reluzentes e por fim insultados por um patrão que «detesta a pobralhada». É a festa dos homens de boa vontade, como dizia uma admirável fórmula que infelizmente já nem sempre se encontra nas versões modernas dos Evangelhos, desde a serva surda-muda dos cantos da Idade Média que ajudou Maria no parto até ao José aquecendo as fraldas do recém-nascido diante de um pequeno fogo, aos pastores cobertos de sebo mas julgados dignos da visita dos anjos. É a festa de uma raça tantas vezes desprezada e perseguida, porque é judeu o recém-nascido do grande mito cristão (falo de mito com respeito, e emprego a palavra no sentido dos etnólogos modernos, significando as grandes verdades que nos ultrapassam e de que precisamos para viver).
É a festa dos animais que participam no mistério sagrado desta noite, maravilhoso símbolo de que São Francisco e alguns outros santos sentiram a importância, mas que os cristãos comuns desprezam, não procurando neles inspiração. É a festa da comunidade humana, porque é, ou será dentro de dias, a dos três Reis cuja lenda quis que um fosse preto, alegoria viva de todas as raças da Terra levando ao menino a variedade dos seus dons. É a festa da alegria, mas também da dor, pois que a criança adorada será amanhã o Homem das Dores. É enfim a festa da própria Terra, que nos ícones da Europa de Leste vemos tantas vezes prosternada à entrada da gruta onde o Menino nasceu, a mesma Terra que na sua marcha atravessa neste momento o ponto do solstício de Inverno e nos arrasta a todos para a Primavera. Por esta razão, antes que a Igreja tivesse fixado o nascimento de cristo nesta data, ela era já, nos tempos antigos, a festa do Sol.
Parece que não é mau lembrar estas coisas que toda a gente sabe e que tantos esquecem.”

Marguerite Yourcenar em: “ O tempo esse grande escultor” - 1976